Carta de um filho que não nasceu

Mamãe, hoje se comemora um dia no qual não posso deixar de descrever a senhora.
Eu como meus amiguinhos, devíamos estar com a senhora, mas a senhora me trucidou, me assassinou.
Enquanto esperava o alimento a senhora me enviou o veneno. Meu direito de nascer, maior do que o direito de viver foi sepultado por mãos criminosas.
“Não nasci!”...
Mamãe, a senhora podia perfeitamente me trazer à vida, à luz. Eu tinha um pai que podia me sustentar.
Os médicos e a maternidade estavam a disposição e a senhora me matou.
Eu tão inocente fui entregue as mãos estúpidas de um médico que me estrangulou e me jogou nos esgotos da maternidade. Foram tantos, estes crimes mamãe.
Só na minha cidade se cometem milhares por dia.
Oh! Mamãe, por que a senhora me matou?
Que mal eu fiz, mamãe, para a senhora me expulsar do seio?
Quão triste a minha sorte! Quão grande a minha dor! ...
Aonde meu corpinho veio parar, mamãe! Sendo feito do amor deveria estar no mais íntimo do coração e não no lugar mais imundo e mais repugnante da cidade.
Mamãezinha pense nisto! Mostre esta carta ás outras mães. Leia no rádio e na TV. Publique nos jornais. Pois os crimes estão chamando e os ouvidos dos homens estão surdos. Olhe mamãe, a casa da vizinha como está alegre, os pais e os seus!
Olhe como os sacrifícios são compensados!
A senhora não teve a generosidade de me trazer ao mundo, só teve um prazer carnal para me conceber.
Foi tão grande o crime, eu era inocente e indefeso.
Os meus ouvidos não ouviram a trama do crime. Meus olhos não viram as mãos assassinas.
Meu nariz não sentiu o cheiro do sangue. Meus braços não podiam me defender.
Os animais por mais ferozes que sejam respeitam os seus filhos, e a senhora se tornou mais feroz do que a fera mais bruta.
Não podia haver outro crime pior.
O dia das mães não é oferecido à senhora, é o dia daquelas que souberam ser mães.
Das mães que se prolongaram nos seus filhos. Só estas podem comemorar o segundo domingo de maio.
Mamãe! Fico aqui, com o meu perdão, que a senhora obterá com muitas lágrimas.


Autor desconhecido.